2º SD – 2º bimestre
Romantismo (século XIX)
Introdução
A ascensão da burguesia à classe dominante, em consequência da Revolução Francesa; a evolução decorrente da Revolução Industrial; os ideais de liberdade que pontificam no século XIX (o liberalismo, as independências etc.) relacionam-se com o movimento romântico, assim como o surgimento de um novo público leitor, de origem burguesa, este público formou o seu gosto literário através da leitura de jornais vendidos a preços acessíveis. A elevação do poder aquisitivo da classe média e um sistema de impressão de obras em escala industrial propiciaram o alargamento do mercado consumidor de livros.
Situação Histórica
O Romantismo como escola literária tem suas primeiras manifestações no final do século XVII nos países europeus mais desenvolvidos, como a Alemanha e a Inglaterra. Uma obra publicada em 1744 – o romance Werther, do escritor alemão Goethe – pode ser considerada o marco inicial da escola romântica na Europa. Com esse livro lançam-se os alicerces da literatura sentimental que caracterizaria o século XIX. Na Inglaterra, os dois maiores representantes do Romantismo foram Walter Scott, autor de Ivanhoé, que instala as bases do romance histórico medievalista, e Lord Byron, o poeta utrarromântico cuja influência sobre a juventude, o byronismo, popularizou-se como o “mal-do-século”.
Mas a grande propagadora do Romantismo foi a França devido à atmosfera legada pela Revolução Francesa (1789), que promoveu a liberdade do individuo, rejeitou o absolutismo e levou ao poder a burguesia. A nobreza perdeu o poder político e econômico, e a burguesia passou a ditar novos valores. A euforia provocada pela Revolução, associada à possibilidade de ascensão econômica e individual, é o suporte e inspiração de uma literatura que retrata emoções individuais.
Lord Byron
A poesia byroniana exprimiu o pessimismo romântico, que se volta contra Deus e a criação. É uma poesia agressiva, contra a sociedade. A figura de Byron confundiu-se com a de seus heróis: melancólico, sombrio, misterioso, amaldiçoado. A aura lendária em torno de sua personalidade foi bastante cultivada. O poeta teve seus gestos imitados, assim como seus poemas.
Características do Romantismo
O Romantismo foi, sobretudo, um movimento de negação à estética clássica (Antiguidade) e neoclássica (século XVIII). Muito menos rígidos quanto a padrões, os românticos cultuavam as razões do coração e a rebeldia individual. A beleza artística romântica é livre.
Acompanhe, a seguir, as características essenciais do movimento romântico, baseadas no estudo de Salvatore D’Onofrio constante de sua obra Literatura ocidental, autores e obras fundamentais.
Liberdade de criação e mistura de gêneros: rompem-se os esquemas métricos e rítmicos da poesia. O escritor romântico abole todo tipo de padrão preestabelecido. Adota heróis grandiosos, geralmente personagens históricas que foram de alguma forma infelizes: vida trágica, frustração amorosa, exílio (ex.: Dante, Camões).
Criação como impulso/ ruptura de regras: valoriza-se a impulsividade, não se cerceia a iniciativa de criação: existe liberdade de expressão. O poeta pode atuar como um porta-voz de um grupo, de sua pátria etc.
Subjetivismo e valorização do eu: a obra romântica é uma representação da realidade interior. A consciência individual passa a ser o principio de qualquer conhecimento. Não há obediência à harmonia de formas (em oposição ao Classicismo). O disforme, o feio também podem ser objetos da arte. A concepção de beleza é relativa.
Primado do sentimento: a obra romântica resulta da imaginação, da fantasia. Exaltam-se os sentidos, e tudo o que é provocado pelo impulso é permitido. Contraditoriamente, supervalorizam-se o amor, a virgindade, o sentimento nostálgico, a melancolia, a solidão.
Ênfase no primeiro amor e na pureza feminina: sobretudo a narrativa romântica terá como grande tema a história de amor, em que os que amam enfrentam sempre grandes obstáculos, mas, no fim, assistem à vitória do primeiro e único amor. A figura feminina é quase sempre vista como angelical e pura. Exemplo: Senhora, de José de Alencar.
Historicismo e valorização da pátria: evasão do tempo, remetendo à Idade Média, berço das nações europeias (Medievalismo), ou evasão no espaço, para regiões selvagens, de povos não-contaminados pela civilização. Há também extrema valorização da terra natal, vista sempre como um lugar privilegiado.
Pessimismo e mal-do-século: a busca da solidão, a inquietação, o desespero, a frustração, que pode levar ao suicídio resultam da impossibilidade de realizar o sonho absoluto do “eu”. Nesse sentido, notam-se grandes influências de Goethe e de Byron.
Culto ao fantástico, ao sonho: o mundo romântico abre-se com facilidade para o mistério, para o sobrenatural. Representa com frequência o sonho, a imaginação. O que acontece na obra é impossível de ocorrer na realidade, pois é fruto da fantasia.
Romantismo em Portugal
O romantismo em Portugal surgiu em um contexto de instabilidade política no país, marcado pela invasão francesa, dominação inglesa e ausência do rei. O país foi tomado por revoltas que levaram à Guerra Civil Portuguesa. Nessa conjuntura, autores românticos da primeira geração (1825-1840), como Almeida Garrett e Alexandre Herculano, tiveram a responsabilidade de, por meio de seus textos, despertar o sentimento de nacionalidade no povo lusitano.
Entretanto a segunda geração romântica portuguesa (1840-1860) abandonou a ideologia política de seus antecessores para produzir uma literatura de entretenimento, marcada pelo exagero sentimental, como se pode verificar nas obras de Camilo Castelo Branco e Soares de Passos. Já a terceira geração (1860-1870), pré-realista é caracterizada pela temática social, é formada por autores como Júlio Dinis e Antero de Quental.
Contexto histórico do romantismo em Portugal
Em 4 de julho de 1776, os Estados Unidos assinavam a sua Declaração de Independência. Na Europa, pouco mais de uma década depois, acontecia a Revolução Francesa, em 1789. Esses dois fatos históricos foram consequência de ideias iluministas, que se fortaleceram durante o século XVIII. Os iluministas valorizavam a razão em detrimento da fé, o que levou a um enfraquecimento dos laços entre a Igreja e as monarquias europeias. Como consequência, houve a decadência do absolutismo em toda a Europa, incluindo Portugal. O “direito divino dos reis” era substituído pelo direito dos cidadãos.
Nesse contexto, a burguesia tomou o poder e passou a ter, desde então, forte protagonismo político e econômico em todo o mundo ocidental. O lema da revolução — “Liberdade, igualdade, fraternidade” — passou a inspirar vários artistas e intelectuais burgueses, que viam na queda do absolutismo o nascimento de um novo mundo. Assim, esse ideal de liberdade foi o principal elemento responsável pelo surgimento do romantismo.
A era napoleônica (1799-1815) teve influência no surgimento do nacionalismo romântico em Portugal. O imperador francês Napoleão Bonaparte (1769-1821) ameaçou invadir esse país caso ele não fechasse os portos aos ingleses. No entanto, a Inglaterra era uma aliada antiga e poderosa. Sem querer desagradar a nenhum dos lados, em 1807, D. João VI (1767-1826) e sua corte fugiram de Portugal em direção ao Brasil.
Almeida Garrett, durante a Guerra Civil Portuguesa — obra de Joaquim Vitorino Ribeiro (1849-1928).
D. João VI, após a expulsão dos franceses e com a ameaça de perder o seu poder em Portugal, voltou ao seu país, em 1821, com o objetivo de restabelecer a ordem. Pressionado, assinou a Constituição de 1822, na tentativa de estabelecer uma monarquia constitucional. Entretanto, em 1823, houve a Revolta de Vilafrancada, seguida pela Revolta de Abrilada, em 1824, eventos que antecederam a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834).
Nesse contexto conturbado, de disputa entre constitucionalistas e absolutistas, os artistas portugueses sentiram a necessidade de recorrer ao nacionalismo para unir e fortalecer a nação.
Principais características do Romantismo em Portugal
Como características gerais do Romantismo em Portugal, podemos apontar:
Individualismo e egocentrismo;
Certa liberdade formal;
Adjetivação abundante;
Uso intenso de exclamações, interrogações e reticências;
Subjetividade e originalidade;
Idealização do amor e da mulher;
Exagero sentimental;
Medievalismo: teocentrismo.
Gerações românticas em Portugal
Alexandre Herculano, em 1869.
Desenho de Tomás Carlos Capuz (1834-1899).
O romantismo português é dividido em três fases.
Primeira fase do romantismo em Portugal
A primeira fase é marcada pelo nacionalismo. Surge como resultado da instabilidade política em Portugal nos anos que antecederam essa geração — a invasão francesa, o domínio inglês e a ausência do rei. Tem início em 1825, com a publicação do poema Camões, de Almeida Garrett (1799-1854). Diante de uma crise de identidade, essa geração procura resgatar os mitos históricos de Portugal, como Luís Vaz de Camões (1524-1580). No entanto, é após a Guerra Civil Portuguesa que o projeto romântico da primeira geração toma fôlego, com a publicação de A voz do profeta (1836), de Alexandre Herculano (1810-1877).
As obras dessa fase do romantismo português são marcadas por medievalismo, idealizações, nacionalismo e saudosismo. Seus dois principais representantes, Garrett e Herculano, voltaram do exílio (devido ao envolvimento deles em revoluções liberais) para empreender o projeto de retomada de uma literatura nacional e original. Esses escritores fazem parte de uma geração literária politicamente engajada e defensora do liberalismo. Conscientes de seu papel artístico e político, os autores dessa fase empreenderam a reflexão sobre o processo criativo, sobre o romantismo que inaugurava no país e sobre a nacionalidade portuguesa.
Além de Garrett e Herculano, outro nome importante dessa geração é António Feliciano de Castilho (1800-1875). Ele, juntamente a Almeida Garrett, iniciou seu percurso literário no arcadismo. Esses dois escritores são considerados, portanto, autores de transição para a nova estética literária. Assim, Alexandre Herculano é o romântico por excelência dessa geração, que, responsável por consolidar as bases do movimento, tem seu fim em 1840 para dar lugar aos ultrarromânticos.
Segunda fase do romantismo em Portugal
A segunda fase do romantismo português, que durou de 1840 a 1860, é caracterizada pelo excesso de sentimentalismo, pessimismo, melancolia, religiosidade, idealização, sofrimento amoroso e adjetivação abundante. São recorrentes temáticas como: amor, morte e saudade. Essa geração não estava mais comprometida com o projeto ideológico nacionalista da primeira geração, já que o país atingia a sua estabilidade política.
Desse modo, o ultrarromantismo português é caracterizado pelo seu caráter de entretenimento da classe burguesa, leitora e consumidora das obras desse período, vistas pela crítica atual como obras de autores que se preocupavam mais com a forma do que com o conteúdo. Assim, os principais autores desse período são Camilo Castelo Branco (1825-1890) e Soares de Passos (1826-1860).
Terceira fase do romantismo em Portugal
Já a terceira fase, de 1860 a 1870, é considerada pré-realista, pois marca a transição do romantismo para o realismo-naturalismo português. Essa geração produz obras com temática social, portanto, possui uma perspectiva um pouco mais realista, apesar de seu caráter sentimental. Dessa forma, ao realizar um “romantismo social”, ela se opõe aos ultrarromânticos e retoma a literatura ideológico política da primeira fase.
Os autores dessa geração são hugonianos, isto é, influenciados pelo escritor romântico francês Victor Hugo (1802-1885). Têm, assim, um senso de liberdade e justiça que buscam imprimir em suas obras. Seus principais representantes são Júlio Dinis (1839-1871), João de Deus (1830-1896) e Antero de Quental (1841-1891). Este último, entretanto, é considerado, por alguns pesquisadores, um escritor realista.
Obras do romantismo português
Capa do livro “Amor de perdição”, de Camilo Castelo Branco, publicado pela editora L&PM. [1]
Poesia
Camões, de Almeida Garrett (1825)
D. Branca, de Almeida Garrett (1826)
A noite do castelo e Os ciúmes do bardo, de António Feliciano de Castilho (1836)
A harpa do crente, de Alexandre Herculano (1838)
Poesias, de Soares de Passos (1856)
Odes modernas, de Antero de Quental (1865)
Flores do campo, de João de Deus (1868)
Teatro
Um auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett1 (1838)
A crente na liberdade, de Alexandre Herculano (1838)
O alfageme de Santarém, de Almeida Garrett (1842)
Os infantes em Ceuta, de Alexandre Herculano (1842)
Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett (1843)
Um rei popular, de Júlio Dinis (1858)
Um segredo de família, de Júlio Dinis (1860)
O morgado de Fafe em Lisboa, de Camilo Castelo Branco (1861)
Romance
Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano (1844)
Amor de perdição, de Camilo Castelo Branco (1862)
Coração, cabeça e estômago, de Camilo Castelo Branco (1862)
As pupilas do senhor reitor, de Júlio Dinis (1867)
Prosa
A voz do profeta, de Alexandre Herculano (1836)
Viagens na minha terra, de Almeida Garrett (1846)
Aproveitamento de leitura:
Faça o resumo do texto em seu caderno e depois responda:
Qual obra inaugurou o Romantismo em Portugal?
Quais fatores contribuíram para o crescimento do mercado consumidor de livros?
Quando e em quais países o Romantismo tem suas primeiras manifestações literárias?
Qual obra deu origem ao Romantismo na Europa?
Qual autor teve grande repercussão na Inglaterra?
Quais as característica da obra de Lord Byron?
O Romantismo português é constituído de três fases. A Terceira opõe-se a Segunda em que sentido? Explique.
Cite características e autores que constituíram a primeira fase romântica portuguesa.
Cite características e autores que fizeram parte da segunda fase romântica portuguesa.
Cite características e autores que fazem parte da terceira fase romântica portuguesa.
Após realizar esta atividade envie-a para o e-mail: sconceicao@prof.educacao.sp.gov.br até dia 16/11/2020.