quinta-feira, 17 de junho de 2021

Atividade de Língua Portuguesa 2° Bimestre 3ª Série A ,B, e C-----Prof.ª Cida Vieira


Atividade Língua Portuguesa – 2º Bimestre – 3º A, B e C 

Prof.ª Cida Vieira

Orientações: Leiam os textos e respondam as questões; enviem via WhatsApp (11) 9 1145 6336 ou e-mail vieiracida21@gmail.com  Data de entrega até 30/06/21.


Texto 1

 

Se eu morresse amanhã 

Álvares de Azevedo

 

Se eu morresse amanhã viria ao menos 

Fechar meus olhos minha triste irmã; 

Minha mãe de saudades morreria 

Se eu morresse amanhã! 

Quanta glória pressinto em meu futuro, 

Que aurora de porvir e que manhã! 

Eu perdera chorando essas coroas 

Se eu morresse amanhã! 

 

Que sol! Que céu azul! Que doce n'alva 

Acorda a natureza mais louçã! 

Não me batera tanto amor no peito 

Se eu morresse amanhã! 

 

Mas essa dor da vida que devora 

A ânsia de glória, o dolorido afã... 

A dor no peito emudecerá ao menos 

Se eu morresse amanhã! 

 

(AZEVEDO, Álvares de. In: SANTOS, Rubens Pereira. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993. p. 29.)

GLOSSÁRIO

n'alva: no primeiro alvor da manhã, alvorecer.

louçã: graciosa, elegante.

ofã: cansaço, fadiga


Análise textual:

1. Qual é o tema do poema? 

 

2. Que sentimentos e reflexões são expressos pelo eu lírico? Justifique. 

 

3. Releia os versos a seguir e explique a que cada um deles se refere. 

 

a) "Se eu morresse amanhã viria ao menos / Fechar meus olhos minha triste irmã; / Minha mãe de saudades morreria [...]

b) "Que sol! Que céu azul! Que doce n'alva / Acorda a natureza mais louçã! [...]" 

c) "[...] A dor no peito emudecerá ao menos [...]" 

 

4. Que palavras e expressões constroem a temática da dúvida em relação ao futuro?


Texto 2 –No lar (Casemiro de Abreu )

No lar 

Terra da minha pátria, abre-me o seio 

Na morte - ao menos 

Garrett I

 

Longe da pátria, sob um céu diverso 

Onde o sol como aqui tanto não arde, 

Chorei saudades do meu lar querido 

— Ave sem ninho que suspira à tarde. —

 

No mar — de noite — solitário e triste 

Fitando os lumes que no céu tremiam, 

Ávido e louco nos meus sonhos d'alma 

Folguei nos campos que meus olhos viam. 

 

Era pátria e família e vida e tudo, 

Glória, amores, mocidade e crença, 

E, todo em choros, vim beijar as praias 

Por que chorara nessa longa ausência. 

 

Eis-me na pátria, no país das flores, 

— O filho pródigo a seus lares volve, 

E concertando as suas vestes rotas, 

O seu passado com prazer revolve! —

 

Eis meu lar, minha casa, meus amores, 

A terra onde nasci, meu teto amigo, 

A gruta, a sombra, a solidão, o rio 

Onde o amor me nasceu — cresceu comigo. 

 

Os mesmos campos que eu deixei criança, 

Árvores novas... tanta flor no prado! ... 

Oh! como és linda, minha terra d'alma, 

— Noiva enfeitada para o seu noivado! —

 

Foi aqui, foi ali, além... mais longe, 

Que eu sentei-me a chorar no fim do dia; 

— Lá vejo o atalho que vai dar na várzea... 

Lá o barranco por onde eu subia!... 

 

Acho agora mais seca a cachoeira 

Onde banhei-me no infantil cansaço... 

— Como está velho o laranjal tamanho 

Onde eu caçava o sanhaçu a laço!... 

 

Como eu me lembro dos meus dias puros! 

Nada m'esquece! ... e esquecer quem há-de? ... 

— Cada pedra que eu palpo, ou tronco, ou folha, 

Fala-me ainda dessa doce idade! 

 

 

Eu me remoço recordando a infância, 

E tanto a vida me palpita agora 

Que eu dera oh! Deus! a mocidade inteira 

Por um só dia do viver d'outrora!

 

E a casa? ... as salas, estes móveis... tudo, 

O crucifixo pendurado ao muro... 

O quarto do oratório... a sala grande 

Onde eu temia penetrar no escuro! ... 

 

E ali... naquele canto... o berço amado! 

E minha mana, tão gentil, dormindo! 

E mamãe a contar-me histórias lindas 

Quando eu chorava e a beijava rindo! 

 

Oh! primavera! oh! minha mãe querida! 

Oh! mana!  — anjinho que eu amei com ânsia — 

Vinde ver-me, em soluços — de joelhos —

Beijando em choros este pó da infância! 

 

ABREU, Casimiro de. Poesia. 4. ed Rio de janeiro: Agir, 1974. p. 30-32.

 

Vocabulário de apoio

 

Ávido: ansioso, impaciente 

Concertar: pôr em ordem, harmonizar 

Filho pródigo: em parábola da Bíblia cristã, jovem que retorna arrependido à casa do pai após desperdiçar todos os seus bens 

Fitar: olhar fixamente 

Folgar: descansar 

Laço: armadilha para apanhar caça 

Lume: luz, brilho 

Palpar: apalpar, tocar 

Remoçar: tornar mais moço, rejuvenescer 

Roto: esfarrapado, rasgado 

Sanhaçu: pássaro com plumagem azulada ou esverdeada 

Várzea: terreno baixo à margem de um rio 

Volver: voltar, regressar 

 

 

 Análise textual:

 

1. Como pode ser entendida a metáfora que encerra a primeira estrofe? 

 

2. Nas quatro primeiras estrofes, o eu lírico ocupa dois espaços diferentes. Identifique-os e caracterize o estado de espírito do eu lírico relacionado a cada um deles. 

 

3. Diante da paisagem de sua pátria, o eu lírico nota algumas mudanças. 

 

  1. Transcreva dois versos em que isso se evidencia. 

 

     b) Explique o que a percepção dessas mudanças indica. 

   

 

 

 

 

Texto 3 – Trechos da obra Dom Casmurro – Machado de Assis

 

Trecho I

 

Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe desciam à cintura. Em pé não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse. 

— Senta aqui, é melhor. 

Sentou-se. "Vamos ver o grande cabeleireiro", disse-me rindo. Continuei a alisar os cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas porções iguais, para compor as duas tranças. 

Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tacto aqueles fios grossos, que eram parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito para desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas vestidas de chita, e a sensação era um deleite. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena, nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa... [...] Enfim, acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as pontas? Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as pontas das tranças, uni-as por um laço, retoquei a obra, alargando aqui, achatando ali, até que exclamei: 

— Pronto! 

— Estará bom? 

— Veja no espelho. 

Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados, os olhos de uma na linha da boca do outro. Pedi- lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta, machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu. 

— Levanta, Capitu! 

Não quis, não levantou a cabeça, e ficamos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os lábios, eu desci os meus, e... 

Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam vi que Capitu tinha os seus no chão. Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e mimosas... [...] 

 

Machado de Assis. Dom Casmurro. In Obra completa, vol. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.


** Observe que o narrador dirigi-se nesse trecho ao leitor, recurso conhecido como "técnica do leitor incluso". Esse procedimento, frequente na literatura de Machado de Assis, ora é empregado para elogiar o leitor, conquistando-lhe a simpatia, ora é um meio de ridicularizá-lo, de modo que o narrador assume uma postura arrogante de superioridade. 

 

Trecho II

 

Ouvimos passos no corredor; era D. Fortunata. Capitu compôs-se depressa, tão depressa que, quando a mãe apontou à porta, ela abanava a cabeça e ria. Nenhum laivo amarelo, nenhuma contração de acanhamento, um riso espontâneo e claro, que ela explicou por estas palavras alegres: 

— Mamãe, olhe como este senhor cabeleireiro me penteou; pediu-me para acabar o penteado, e fez isto. Veja que tranças! 

— Que tem? acudiu a mãe, transbordando de benevolência. Está muito bem, ninguém dirá que é de pessoa que não sabe pentear. 

— O que, mamãe? Isto? redarguiu Capitu, desfazendo as tranças. Ora, mamãe! 

E com um enfadamento gracioso e voluntário que às vezes tinha, pegou do pente e alisou os cabelos para renovar o penteado. D. Fortunata chamou-lhe tonta, e disse-me que não fizesse caso, não era nada, maluquices da filha. Olhava com ternura para mim e para ela. [...] 

 

Machado de Assis. Dom Casmurro. In Obra completa, vol. I. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985.

 

GLOSSÁRIO
desazo: inaptidão

deleite: prazer, satisfação

Aurora: deusa romana do amanhecer, tinha como irmão o Sol e como irmã a Lua

laivo: indício


Análise textual: 


1. Por que Bentinho diz, no trecho I, que o trabalho de pentear Capitu era atrapalhado "de propósito"? 

 

2. Por que Bentinho chama o leitor de "desgraçado"? 

 

3. Que aspectos da personalidade de Bentinho podem ser identificados no trecho I? 

 

4. Transcreva do trecho II o fragmento que melhor indica o provável caráter dissimulado de Capitu. 

 

5. Das afirmações abaixo, escolha a única que não pode ser associada aos trechos. 


a) No episódio, Bentinho descobre prazeres sensuais por Capitu. 


b) O comportamento da mãe de Capitu é uma prova de que ela desejava estimular o namoro de sua filha e Bentinho.  


c) O constrangimento de Capitu, após beijar Bentinho, é uma atitude contraditória, pois é inegável que o beijo ocorreu por sua vontade deliberada.  


d) As ações inesperadas de Capitu têm o poder de aturdir Bentinho. 

 

Texto 4 – trecho da obra O cortiço – Aluísio Azevedo


Leia a parte inicial do terceiro capítulo do romance O cortiço, e responda às questões propostas. 

 

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. 

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas da última guitarra da noite antecedente, dissolvendo-se à luz loura e tenra da aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia. 

A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e punha-lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas. 

Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias; reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam-se risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos, cantar de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saíam mulheres que vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à semelhança dos donos, cumprimentavam-se ruidosamente, espanejando-se à luz nova do dia. 

Daí a pouco, em volta das bicas era um zumzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.

O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.


GLOSSÁRIO

acre: cheiro forte, ativo, áspero, seco.
altercavam: discutiam com ardor.
zumzum: zumbido; som de insetos.

casco: couro cabeludo.
ensarilhavam-se: emaranhavam, ,. embaraçavam, enredavam.
rezingas: reclamações, rixas, altercações.
palhotas: pequenas casas rústicas, cobertas de palha. 

caniço: bambu. 

xilunguine: termo em língua bantu que significa "lugar dos brancos".
macuas: indivíduos pertencentes à etnia macua, do norte de Moçambique. 

cofió: gorro usado por pessoas de origem indiana. 




Análise textual:

1. O primeiro parágrafo do texto sugere que o cortiço é um importante personagem do romance. Qual é a ação praticada pelo cortiço e descrita em todo o fragmento? 


2. Retire do texto uma passagem que acentua o caráter animalesco dos personagens. 


3. Encontre, no parágrafo final do texto, uma alusão à teoria darwinista, tão cara aos escritores naturalistas. 


4. Relacione o foco narrativo do romance com os objetivos perseguidos pelos escritores naturalistas. 


5. Embora eminentemente descritivo, o fragmento lido é bastante dinâmico. Que fatores contribuem para imprimir movimento à cena?