sexta-feira, 21 de maio de 2021

Atividade de Língua Portuguesa (manhã-noite) 3ª Série A , B C---Prof.ª Cida Vieira

 




Atividade de Língua Portuguesa 2º Bimestre – 3ºs. Anos A B e C.


Leiam os textos e enviem as respostas referentes a cada texto via WhatsApp

        (11 9 1145 6336) ou e-mail vieiracida21@gmail.com até 11/06/21.

 

(Leia os textos abaixo e responda as questões)


Texto 1. O navio negreiro 


[...] Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite ...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras, moças... mas nuas, espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs.

[...] Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece...
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!



No entanto o capitão manda a manobra
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!... "

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da roda fantástica a serpente
Faz doudas espirais!
Qual num sonho dantesco as sombras voam...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus... [...]


Castro Alves. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976, p. 280-281

 

Glossário: dantesco: relativo aos suplícios infernais descritos pelo poeta Dante Alighieri, em A divina comédia

tombadilho: estrutura erguida na popa de um navio

luzernas: clarões

açoite: chicote

espectros: fantasmas



QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. O poema de Castro Alves busca emocionar, ressaltando a terrível situação a que estavam submetidos os escravos. Indique ao menos três aspectos da cena descrita que colaboram para provocar piedade no leitor. 

 

2. A ironia é um dos recursos empregados no poema para enfatizar o cruel tratamento dispensado aos escravos. Por que se pode afirmar que o verbo dançar foi empregado na primeira estrofe com sentido irônico? 

 

3. Em que momento se revela a indignação do eu lírico em relação à condição dos escravos? 

 

4. Transcreva da primeira estrofe uma hipérbole, figura de linguagem frequentemente empregada pelos poetas condoreiros.


Texto 2. Vaso Chinês 

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura —
Quem o sabe? — de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.


Alberto de Oliveira (Sonetos e poemas, 1886.)

 

O poema que você acabou de ler foi publicado originalmente na terceira coletânea de Alberto de Oliveira, denominada Sonetos e poemas (1886), e mostra o esforço do poeta em manter-se nos padrões rígidos que ajudou a propagar. 

A exemplo de "Vaso chinês", são comuns, nos poemas tipicamente parnasianos de Alberto de Oliveira, as descrições de objetos. Neles, o poeta busca, como um pintor, fixar suas impressões visuais e reproduzir vasos, estátuas, taças, etc. 

 

Questões:

 

1. Para descrever o objeto, o eu lírico cria logo na primeira estrofe uma ambientação sinestésica que torna o vaso mais real, vivo e palpável. Explique essa afirmativa. 

 

2. Que elementos estão pintados no vaso descrito? 

 

3. Que estratégia o poeta utiliza para intensificar e justificar o impacto visual que causa o vaso chinês no eu lírico? 



Texto 3. Adormecida 

A visão de uma jovem que dorme é a inspiração para este poema de amor. 

 

Uma noite eu me lembro... Ela dormia 

Numa rede encostada molemente... 

Quase aberto o roupão... solto o cabelo 

E o pé descalço do tapete rente. 

 

'Stava aberta a janela. um cheiro agreste 

Exalavam as silvas da campina... 

E ao longe, num pedaço do horizonte, 

Via-se a noite plácida e divina.

De um jasmineiro os galhos encurvados, 

Indiscretos entravam pela sala, 

E de leve oscilando ao tom das auras, 

Iam na face trêmulos - beijá-la.

Era um quadro celeste!... A cada afago 

Mesmo em sonhos a moça estremecia...   . 

Quando ela serenava... a flor beijava-a...

Quando ela ia beijar-lhe... a flor fugia...

 

Dir-se-ia que naquele doce instante 

Brincavam duas cândidas crianças... 

A brisa, que agitava as folhas verdes, 

Fazia-lhe ondear as negras tranças! 

 

E o ramo ora chegava ora afastava-se...

Mas quando a via despeitada a meio, 

P'ra não zangá-la... sacudia alegre 

Uma chuva de pétalas no seio... 

 

Eu, fitando esta cena, repetia 

Naquela noite lânguida e sentida: 

" Ó flor! - tu és a virgem das campinas! 

"Virgem! - tu és a flor de minha vida!... " 

 

ALVES, Castro. Espumas flutuantes. In: Obra completa. Organização de Eugênio Gomes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1886. p.124 -125. (Fragmento).

 

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

 

1) O poema descreve uma cena presenciada pelo eu lírico: sua amada adormecida em uma rede. Como a jovem é caracterizada? 

> Essa caracterização sugere uma imagem de mulher mais sensual, diferente daquela apresentada pelos poetas da segunda geração romântica. Justifique, exemplificando suas afirmações com expressões do texto. 

 

2) Além da moça, outra "personagem" aparece: o jasmineiro. Que papel ele desempenha? 

> Transcreva as expressões que indicam a personificação desse elemento da natureza. 

 

3) A personificação do jasmineiro e as reações da jovem aos seus "beijos" contribuem para reforçar a sensualidade da cena. Explique por quê. 

 

4) Releia. 

 

"Ó flor! - tu és a virgem das campinas! 

"Virgem! - tu és a flor de minha vida! ... " 

 

> De que maneira, nesses versos, o eu lírico estabelece uma relação de identificação entre a mulher e a natureza?



Texto 4. A um poeta.      O fazer poético é o tema deste soneto de Olavo Bilac.

 

 

Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, na paciência e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

 

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica mas sóbria, como um templo grego.

 

Não se mostre na fábrica o suplício

Do mestre. E natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:

 

Porque a beleza, gêmea da verdade,

Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade.

 

 Olavo, Bilac. Poesias. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 336. (Coleção Poetas do Brasil).

 

 

Beneditino: membro da ordem religiosa dos beneditinos. Por extensão, passou a designar alguém que se devota incansavelmente a um trabalho muito meticuloso.

Claustro: Local de recolhimento, de meditação.

 

Interpretação do texto:

 

1 – O que os versos de Bilac sugerem sobre o trabalho do poeta para produzir um texto?

     

      a)   Esse trabalho se baseia na razão ou na emoção? Justifique.

 

 

      b)   Quais são as condições necessárias, segundo o eu lírico, para que se possa escrever um bom poema?

 

 

      c)   De que maneira essas condições contribuem para obter a forma perfeita no poema?

 

 

2 – Na segunda estrofe, o eu lírico compara o resultado a ser alcançado pelo poeta a um tempo grego.

 

      a)   Que qualidades comuns haveria entre o poema ideal e um templo grego?

 

      b)   Copie no caderno outros trechos do texto em que a mesma ideia é reforçada.

 

 

3 – Na terceira estrofe, é utilizada a metáfora do andaime e do edifício para representar o poema. Explique como esses elementos se associam à criação de um poema.

      .

 

Texto 5. PROFISSÃO DE FÉ

               

 

Invejo o ourives quando escrevo:

            Imito o amor

Com Ele, em ouro, o alto-relevo

            Faz de uma flor.

 

Imito-o. E, pois nem de Carrara

            A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

            O ônix prefiro.

 

 

Por isso, corre, por servir-me,

            Sobre o papel

A pena, como em prata firme

            Corre o cinzel.

 

Corre; desenha, enfeita a imagem,

            A ideia veste:

Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

            Azul-celeste.

 

Torce, aprimora, alteia, lima

            A frase; e enfim,

No verso de ouro engasta a rima,

            Como um rubim.

 

Quero que a estrofe cristalina,

            Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

            Sem um defeito:

 

E que o lavor do verso, acaso,

            Por tão sutil,

Possa o lavor lembrar de um vaso

            De Becerril.

 

E horas sem conta passo, mudo,

            O olhar atento,

A trabalhar, longe de tudo

            O pensamento.

 

Porque o escrever – tanta perícia,

            Tanta requer,

Que ofício tal... nem há notícia

            De outro qualquer.

 

Assim procedo. Minha pena

            Segue esta norma,

Por te servir, Deusa serena,

            Serena Forma!

       Olavo Bilac. Profissão de fé. In: Poesia. Rio de Janeiro: Agir, p. 39-40.

 

Questões:

01 – O tema do poema é:

a) a exaltação do lavor poético.

b) a valorização da profissão do ourives.

c) a inveja despertada por algumas profissões.

d) a vocação para trabalhos artísticos.

 

02 – A linguagem utilizada no poema é:

a) simples      b) apurada          c) informal          d) subjetiva.

 

03 – O eu lírico inveja o ourives devido:

a) a forma como ele trabalha.

b) ao material com o qual ele trabalha.

c) ao valor do produto que ele produz.

d) a beleza das peças criadas por ele.

 

04 – O sentimento de inveja que o ourives desperta no eu lírico o motiva a:

a) difamá-lo em seus versos.

b) seguir-lhe o exemplo.

c) ignorá-lo em seus versos.

d) elogiá-lo no poema.

 

05 – Revela a perfeição formal buscada pelo poeta os versos

a) “Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem

            Azul-celeste.”

b) “Que ofício tal... nem há notícia

            De outro qualquer.”

c) “Do ourives, saia da oficina

            Sem um defeito:”

d) “A pena, como em prata firme

            Corre o cinzel."

 

06 – O poeta parnasiano tem a concepção de arte pela arte, distanciando-se da realidade. Percebemos esse distanciamento nos versos

a) “Porque o escrever – tanta perícia,

            Tanta requer,”

b) “Por te servir, Deusa serena,

            Serena Forma!”

c) “Por isso, corre, por servir-me,

            Sobre o papel”

d) “A trabalhar, longe de tudo

            O pensamento.”

07 – Do ponto de vista formal, o poema caracteriza-se pela regularidade métrica e rímica, observando aos critérios clássicos de beleza poética, seguidos pelos parnasianos. Justifique essa afirmação, mostrando o tipo de estrutura métrica e rímica que possui.

      08 – Na primeira estrofe, desenvolve-se uma comparação que nos permite perceber a extrema importância da forma, para a poesia parnasiana. De que comparação se trata?

      

09 – Os elementos estatísticos da poesia parnasiana destacados pela comparação citada referem-se à matéria-prima do trabalho – a linguagem – e também ao modo de executá-lo. Que passagem da 1ª estrofe pode ser relacionada com a precisão, a minúcia, a preocupação com os detalhes, típicas desse estilo?

      

10 – Indique a estrofe que sintetiza o ideal normativo e esteticista do estilo parnasiano, deixando subentendido o sacrifício da dimensão conteudistica do poema.

     

11 – Que verbos da quarta estrofe exprimem o pressuposto parnasiano de que a criação literária é fundamentalmente um trabalho intelectual, um debruçar-se sobre a obra em busca da perfeição formal?