2° bimestre – 1º ano
Os gêneros literários
As tentativas de classificar as obras literárias em gêneros são muito antigas. Remontam a Platão e a Aristóteles.
A tradição uma classificação básica em três gêneros, que englobam inúmeras categorias menores comumente chamadas de subgêneros:
- Gêneros: narrativo ou épico, lírico e dramático
O gênero lírico se faz o mais das vezes em versos. Mas os outros dois gêneros – o narrativo e o dramático – também podem ser escritos nessa forma, embora modernamente se prefira a prosa.
As características do gênero épico ou narrativo
Podemos definir a obra narrativa como o relato de acontecimentos, imaginários ou não, que se sucedem no tempo e se situam num espaço, envolvendo um ou mais personagens.
O tempo da narrativa, por definição, é o passado, pois o narrador, em geral, conta o que já aconteceu: o caso foi assim; era uma vez... Naturalmente, esse passado pode ser muito recente, e os acontecimentos podem ainda estar em processo, atingindo o presente do narrador. Por outro lado, não se deve confundir esse passado com o tempo verbal utilizado pelo narrador. Com muita frequência se usa o verbo no presente, como se o fato passado estivesse acontecendo no momento em que é narrado.
Outra característica desse gênero é a presença de um narrador, que não deve ser confundido com o autor da obra. O narrador é um elemento intrínseco ao texto criado pelo autor.
Há inúmeros subgêneros narrativos, diferenciados pela extensão, complexidade, amplitude da visão de mundo, temáticas etc. Exemplos: epopeia, romance, conto, poema narrativo, crônica, fábula, mito.
Resumo das características do gênero épico
- mais objetivo que o lírico;
- relato de acontecimentos imaginários ou ficcionados;
- mediação por um narrador (foco narrativo);
- tempo: passado;
- progressão temporal;
- personagens.
Tipos de narrador
Para contar uma história, o narrador pode se posicionar de maneiras diversas. Assim, dependendo da perspectiva do narrador, uma obra pode ter:
- Foco narrativo em terceira pessoa: quando o narrador é apenas uma voz que não se identifica; em outras palavras, quando o narrador não é uma personagem.
- Foco narrativo em primeira pessoa ou narrador-personagem: quando o narrador é uma das personagens que vivem a história.
O narrador pode ser ainda:
- Observador: quando narra de um ponto de vista exterior, como quem presencia ou testemunha os acontecimentos.
- Onisciente: quando conhece e revela o interior das personagens, seus pensamentos e emoções.
Tipos de discurso
O narrador relata acontecimentos e ações, descreve lugares, objetos e personagens, faz comentários e desenvolve reflexões. Ele é o mediador entre os fatos ocorridos no passado e o leitor. Mesmo os discursos dos personagens – o que eles fazem ou pensam – são mediados, ou seja, relatados, pela voz do narrador.
Há basicamente três modos de construção dos discursos dos personagens:
- Discurso direto
O narrador apenas reproduz, sem modificações, as falas ou os pensamentos dos personagens. Nesse caso, o autor utiliza algumas marcas convencionais, como dois pontos, a mudança de parágrafo, o travessão, as aspas.
Observe o exemplo:
Depois de abraçar o filho, um abraço tão apertado que quase o sufocou, a mãe tirou da bolsa um embrulhinho e disse:
--- Olha o que eu trouxe para o meu mimoso.
- Discurso indireto
O narrador “traduz” a fala do personagem, colocando-se como intermediário ou interprete.
Veja o mesmo exemplo, transformado em discurso indireto:
Depois de abraçar o filho, um abraço tão apertado que quase o sufocou, a mãe tirou da bolsa um embrulhinho. Mostrando-o, disse que o trouxera para seu filhinho mimoso.
Observe que, transformação do discurso direto para o indireto:
_ trocamos os dois-pontos e o travessão pela conjunção que;
_ excluímos a forma verbal do imperativo (olha), pois ela só poderia ser usada pela mãe, no momento da fala, e substituímos pelo verbo mostrar no gerúndio (mostrando);
_ mudamos o verbo trazer da primeira para a terceira pessoa (eu trouxe –[ela] trouxera);
_ substituímos a forma verbal do pretérito perfeito do indicativo (passado recente: trouxe) para o pretérito mais-que-perfeito (trouxera).
- Discurso indireto livre
Uma forma híbrida dos dois processos anteriores. O autor insere fragmentos de discurso direto no discurso indireto. Para esse tipo de discurso, não há convenções rígidas, variando muito as técnicas e as soluções criadas pelos autores.
O exemplo que demos para os discursos direto e indireto é adaptação de um trecho, em discurso indireto livre, de um conto de Sergio Faraco, que lerá a seguir. Veja o texto original:
[...] quando ela chegou com o pratinho da janta, preocupada, esbaforida, e depois de abraçá-lo, um abraço apertado, tão apertado que quase o sufocou, tirou da bolsa um embrulhinho e olha o que eu trouxe para o meu mimoso.
Observe nesse exemplo que a frase destacada refere-se à fala de um personagem, mas insere-se no discurso do narrador sem nenhum anúncio (um verbo como disse, falou, exclamou) e sem as marcas gráficas convencionais do discurso direto (dois-pontos, travessão ou aspas).
As características do gênero lírico
Na obra lírica um sujeito que chamamos eu-lírico, sujeito lírico, voz lírica ou voz poética exprime suas emoções. (Por emoções entendemos todas as experiências psíquicas: sejam os mais profundos sentimentos e sensações, sejam ainda as mais variadas reflexões e concepções de mundo.)
É, dos gêneros, o mais subjetivo.
Em razão da intensidade da expressão, as obras líricas tendem a ser concisas e a acentuar o ritmo e a musicalidade da linguagem. Consequentemente, o gênero lírico realiza-se, em geral, em forma de poema em versos.
A partir do século XIX desenvolveu-se um subgênero chamado poema em prosa, muito cultivado na literatura dos nossos dias. Embora não sejam escritos em versos, as obras desse subgênero têm intensidade e a concisão da poesia.
Resumo das características do gênero lírico
- subjetivo por excelência;
- expressão do mundo interior (espaços, coisas, pessoas do mundo objetivo são evocações) de um eu (sujeito lírico);
- tempo: preponderância do presente;
- sem progressão temporal.
.
As características do gênero dramático
Na obra dramática os fatos são apresentados diretamente ao espectador, sem intermediários. Não é necessária a voz de um narrador como na obra narrativa.
Pertencem ao gênero dramático as obras escritas em versos ou em prosa para a representação teatral. Assim, embora o texto possa ser objeto de leitura, sua realização plena como obra de arte só pode ocorrer no palco, onde cada personagem é representada por um ator, que (re) vive o papel em cada novo espetáculo.
Enquanto o tempo próprio da narrativa é o passado, o tempo da obra dramática é o presente.
O discurso direto (fala da personagem sem intermediação de narrador) e o dialogo são as formas básicas da linguagem dramática. E através do diálogo que ocorre o entrechoque das personagens, realizando-se a característica essencial do gênero, que é o conflito.
Resumo das características do gênero dramático
- conflito entre subjetividades – personagens – dialogo;
- ação (acontecimento);
- apresentação direta sem mediação de um narrador;
- representação por atores;
- concretização do espaço (cenário);
- tempo: presente da ação;
- progressão temporal.
Aproveitamento de leitura...
- Assista ao vídeo da plataforma Descomplica https://www.youtube.com/watch?v=xYwoant-xXY
- Faça o resumo do texto acima em seu caderno.
- Responda as questões a seguir:
- Quais são os gêneros literários existentes?
- Qual a diferença entre gênero narrativo e gênero épico?
- Como pode ser tratado o tempo e o espaço no gênero narrativo? Explique.
- O que são personagens planos e redondos?
- Qual a diferença entre gênero narrativo e gênero dramático?
- Qual tipo de discurso predomina no gênero dramático? Por que neste gênero utiliza-se a rubrica?
- Qual a diferença entre eu-lírico e autor? Explique.
- Após realizar esta atividade envie-a para o e-mail: sconceicao@prof.educacao.sp.gov.br até dia 10/07/2020. Não se esqueça de se identificar com nome, número e turma.